Concessa Colaço: concertos bordados
23 novembro - 14 dezembro de 2024
Concessa Colaço nasceu em Lisboa, e veio para o Brasil em 1940, aos doze anos de idade. Aprendeu a bordar com sua mãe, Madeleine Colaço, uma das pioneiras da tapeçaria no Brasil. Seu pai, Tomás Ribeiro Colaço foi escritor, jornalista e poeta, conhecido em Portugal e no Brasil. Essa ascendência foi marcante, e, a produção de Concessa se alternaria entre as letras e as lãs. Excelente pianista, entre 1962 e 1965, usando o nome Concessa Lacerda, ela se tornou uma figura conhecida no meio musical, como compositora e letrista. Seu maior sucesso foi Verdade da Vida, realizada em parceria com Raul Mascarenhas, música gravada e regravada por grandes intérpretes, inclusive Ney Matogrosso.
A partir dos anos 1970 Concessa passou a se dedicar apenas à tapeçaria, com grande sucesso, no Brasil e no exterior. Nenhum trabalho da artista é datado, mas é possível perceber nas 14 tapeçarias apresentadas na exposição o desenvolvimento de algumas vertentes temáticas e estilísticas. Uma faceta neobarroca, na qual curvas e volutas evocam os padrões tradicionais do arraiolo, com a barra decorativa e a simetria espelhada, e uma vertente mais narrativa, na qual ela detém-se sobre a fé e a simplicidade do povo brasileiro, retratando igrejas, casarios e anjos, com utilização do ponto corrido e o o delineamento das figuras.
Na sua produção mais constante e consistente, Concessa se libera de padrões, propondo mundos encantados. São flores, frutas, folhagens e pássaros míticos, sem compromisso com a realidade ou a brasilidade. A beleza das formas, o alto nível artesanal, a multiplicidade e a densidade das cores são marcas da artista. Nesses concertos bordados, ela traz, da sua vivência musical, a sonoridade de poéticos títulos, como: Poema de um dia azul, Ao cantar a poesia, Eterno paraíso, Poema de cores, Momentos de infinito, Quando o passado é presente.
A década de 1990, marcou o encerramento do período dourado para as artes têxteis, tanto no Brasil quanto no exterior, e Concessa, como muitos outros tapeceiros, parou sua produção com as bordadeiras. São desse período obras como Enigma das Cores e Sem título, sem data, que, mesmo sem a habitual excelência de confecção, trazem uma nova proposta artística.
Hoje, na esteira das revisões feitas pelo sistema de arte atual, muitas práticas artísticas esquecidas estão voltando a ter visibilidade e reconhecimento. Certamente estamos assistindo a uma redescoberta das artes têxteis e a um merecido retorno à cena desta contemporânea arte ancestral.
Denise Mattar | Curadora
Obras
Madona do tempo, s.d. Tapeçaria bordada, 155 x 118 cm.
Sem título, s. d. Tapeçaria bordada, 126,5 x 202 cm.
Taça dos sonhos, s.d. Tapeçaria bordada, 130 x 115 cm.
Momentos de infinito, s.d. Tapeçaria bordada, 128 x 276 cm.
Poema de um dia azul, s.d. Tapeçaria bordada, 135 x 130 cm.
Poema de cores, s.d. Tapeçaria bordada, 120 x 130 cm.
Quando nasce uma luz no parque, s.d. Tapeçaria bordada, 130 x 140 cm.
Ao cantar a poesia, s.d. Tapeçaria bordada, 133 x 133 cm.
Eterno paraíso, s.d. Tapeçaria bordada, 120 x 241 cm.
Quando o passado é presente, s.d. Tapeçaria bordada, 125 x 140 cm.
Nas asas da fé, s.d. Tapeçaria bordada, 130 x 175 cm.
Sem título, s.d. Tapeçaria bordada, 94 x 127 cm.
O enigma das cores, s.d. Tapeçaria bordada, 146 x 285 cm.
Sem título, s.d. Tapeçaria bordada, 126,5 x 126,5 cm.
Fotos: ©EvertonBallardin
Vistas da Exposição | 23 de novembro a 14 de dezembro de 2024
Fotos: 2024©Suzana Mendes