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Mulheres Artistas: nos Salões e em toda parte

04 de junho - 30 de julho de 2022

Acesso ao catálogo completo


Apresentação

Nada há que se possa acrescentar ao que foi escrito. Ressalto, contudo, o que resume minha percepção.

A maioria das pintoras aqui objetivadas passou pela Academia ou aprendizado embasado, mas poucas chegaram ao “mercado”. Neste, os homens é que se colocavam. Verdade é que existe exceção, que não destrói a regra.

Em paralelo a consistência curatorial da presente mostra, são apresentados trabalhos de Dorothy Bastos (1933-2018) que merecem ser vistos a fim de apoiar o estudo da produção da artista.

Entre as artistas expostas, permito-me ainda ressaltar outras duas: Salma Mogames (1925-2015) com o impacto de “Arranha-céus” e a xilografia de Miriam Chiaverini (1940-2005), ambas com presença em Bienais de São Paulo, que igualmente merecem ser revistas.

Arte132 é privilegiada nesta exposição e catálogo. Contamos com o conhecimento acadêmico, sensibilidade e dedicação de Ana Paula Simioni, que em paralelo publica, neste mesmo ano, “Mulheres Modernistas” pela Edusp, e com o empenho e fazer editorial de Suzana Mendes.

Telmo Porto


Mulheres Artistas: nos salões e em toda parte

Na história da arte brasileira temos alguns nomes femininos muito reconhecidos, como Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Lygia Clark, Mira Schendel, entre tantas outras. Porém, antes delas, e ao lado delas, houve diversas artistas mulheres que participaram do sistema artístico e não desfrutaram do mesmo reconhecimento. De modo geral, aquelas artistas vinculadas à tradição acadêmica implantada com a fundação da Academia Imperial de Belas Artes, em 1826, foram bastante menosprezadas. Embora proibidas de cursarem a Academia até 1892, as mulheres estiveram presentes nos salões, como expositoras, desde 1840 – e foram muitas, centenas! No entanto, nem suas participações, nem os prêmios recebidos, garantiram reconhecimento póstumo.

Os próprios salões foram pouco estudados, especialmente os que ocorreram na primeira metade do século XX. Vistos, em geral, como “passadistas” ou “anacrônicos”, eles tiveram na época um papel fundamental de movimentar e estruturar a vida artística em diversas cidades do Brasil. Os salões desafiam também a narrativa de que a história da arte brasileira é constituída por uma linha evolutiva, calcada na ideia de ruptura, que confere supremacia a movimentos como modernismo, abstracionismo, concretismo, etc. Ao contrário, eles deixam claro que uma parcela significativa dos e das artistas atuantes no país viam-se como herdeiros de uma tradição que se renovava – esse é o caso da maior parte das pintoras aqui representadas.

Assim como na pintura, a gravura também foi um campo de destaque para diversas mulheres artistas, especialmente entre os anos 1950 e 1960. Representantes dessa técnica, trazemos a essa exposição Dorothy Bastos e Miriam Chiaverini que, assim como as pintoras, merecem o devido reconhecimento.

A exposição é, portanto, um convite a repensar essas artistas a partir de seus próprios termos, ou seja, enquanto mulheres que procuraram atuar como artistas profissionais, que lutaram para viver de seu ofício, construir um nome próprio, contribuindo para a consolidação de um campo artístico mais institucionalizado. Diversas delas foram compreendidas como esposas, filhas ou alunas de artistas homens o que, de certo modo, as relegou a um lugar marginal que precisa ser revisto. Elas nos permitem perceber que nossa história da arte é muito mais coletiva e plural do que estamos habituados a pensar.

Ana Paula Cavalcanti Simioni


Vistas da Exposição | 04 de junho a 30 de julho de 2022


Fotos: 2022©SuzanaMendes