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Abelardo Zaluar

1924-1987

Abelardo Zaluar nasceu em Niterói em 1924. Seu pai era cartógrafo e o artista herdou seus compassos de precisão e a técnica que ele usava para fazer as grandes superfícies coloridas de seus mapas. Nunca teve nenhuma dúvida sobre que profissão seguir e desde pequeno dizia que seria pintor. Ingressou na Escola Nacional de Belas Artes aos vinte anos, momento no qual havia um tímido início de mudanças no ensino, até então renhidamente acadêmico. Era recente a criação da Divisão Moderna da ENBA (1941) e a produção artística da época inseria-se no movimento conhecido internacionalmente como Retorno à Ordem. A temática social predominava e os artistas pintavam um país que já não era aquele idealizado pelos primeiros modernistas – era um Brasil simplório, e bem mais real. Os temas preferidos eram paisagens de subúrbio e imagens de pessoas do povo, retratadas de maneira lírica, um pouco estilizada, beirando o cubismo. Os primeiros trabalhos de Zaluar refletem essa orientação, e sua primeira exposição individual, com aquarelas, foi apresentada em 1947, no Museu Nacional de Belas Artes, sendo bem recebida pela crítica.

Autor de uma obra geométrico-abstrata singular, Abelardo Zaluar, desde os anos 1950, até seu falecimento, na década de 1980, mereceu o reconhecimento de alguns dos mais importantes críticos de arte do período, como Frederico Morais, Quirino Campofiorito, Clarival Valadares, Walmir Ayala, Jayme Maurício e Roberto Pontual, entre outros.

Apesar de sempre ter participado ativamente do circuito cultural, Zaluar nunca se filiou a nenhuma corrente, e abraçou o abstracionismo geométrico de uma forma tão particular que o tornou sua obra única. Entre as singularidades de seu trabalho está a incorporação das linhas do barroco à geometria, aliando emoção e rigor. Zaluar foi também um importante professor de arte. Foi diretor técnico da Escolinha de Arte do Brasil e ensinou na Escola Nacional de Belas Artes de 1958 até 1968, quando foi incluído numa lista de expurgo da ditadura militar e teve que deixar seu cargo. Passou então a dar aulas em seu ateliê formando toda uma geração de artistas cariocas e fluminenses, que até hoje o reverenciam como um grande mestre. Reintegrado à Escola na década de 1980, logo se aposentou. Sua obra figura em acervos de instituições como o MNBA-RJ, MAM-SP, MAM-RJ, MAC-Niterói e MASP-SP.

Zaluar via a realização de cada quadro como uma aventura e uma descoberta: “Há muito tempo utilizo o quadrado perfeito como formato inicial: os tamanhos é que variam. As formas geométricas que produzo dentro dele não representam um exercício puramente mental e de adestramento repetitivo. Suas articulações surgem de vontades impregnadas de impulsos e vibrações de várias naturezas: ora sou austero, ora lírico, ora lúcido, ora sensual, ora mental, assim por diante.”

Denise Mattar
Exposição Abelardo Zaluar: Rigor e Emoção
[Arte132 Galeria | de 13 de agosto a 24 de setembro de 2022]

 


 

Refletido | 1974 | Acrílica, grafite e cartão sobre madeira | 70 x 70 cm