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Helena e Riokai: entre Brasil e Japão, Paris.

08 de Novembro - 08 de Janeiro de 2022

Acesso ao catálogo completo

APRESENTAÇÃO

Telmo Porto – Diretor da Galeria Arte 132

Arte132 é um local para encontrar amigos e para rever arte, especialmente aquela relevante para o História do Brasil, sempre com enfoque curatorial. Comprar, também.

A exposição Helena e Riokai: entre Brasil e Japão, Paris reflete estes objetivos.

São especialmente interessantes as manifestações artísticas, que se colocam entre duas culturas, em determinado momento histórico. Trata-se de representar o Outro com nossos olhos, em esforço de uso dos cânones exógenos, mas com a impossibilidade de abandonarmos nossa cultura e ancestralidade. Assim é a pintura vice-reinal andina, entre o indígena peruano e os modelos espanhóis, italianos e flamengos; a imaginária católica de Goa ou a louça chinesa de encomenda euro- peia, Companhia das Índias. Mas Helena e Riokai vão além destes exemplos, numa produção que manifesta também suas individualidades artísticas.

Helena e Riokai refletem a História do Brasil e do Japão no período de suas vidas. Repetir que o Japão foi e é fundamental no passado, presente e futuro do Brasil é repetir o óbvio.

Na presente exposição, Riokai pinta a óleo, mas seus valores são japoneses. Helena carrega para o Japão sua linhagem brasileira e sua educação francesa.

Juntos vivem uma verdadeira história de amor, de mútua dedicação e admiração, entre artistas, para toda a vida. Mereceriam o roteiro de um filme, novela ou vídeo-série!

Sobre amizade, antes de tudo, agradecer a Marcelo Araújo, amigo estimado sempre disposto a orientar minhas escolhas, pela proposição inicial desta exposição.

A amizade, o saber e a interlocução de Marcelo têm sido a base da Arte 132, desde quando era apenas uma intenção. Sua amizade é privilégio e honra.

Agradecer também às professoras Madalena Hashimoto Cordaro e Michiko Okano pela pesquisa e curadoria, e ao Claudio Novaes, designer, pelo esforço de trans- formar volumoso material pesquisado no presente catálogo.

Esperamos que muitos venham ver a exposição e gostem.

Aguardamos visitas escolares e de grupos de estudo, para as quais a Arte 132 está sempre à disposição.


CELEBRANDO HELENA E RIOKAI OHASHI

Marcelo Araújo – Museólogo

Devo a Ruth Sprung Tarasantchi – pesquisadora pioneira de tantos temas da história da arte brasileira hoje reconhecidos, como a pintura paulista entre a segunda metade do século XIX e as décadas iniciais do século XX, e a presença de mulheres artistas no cenário brasileiro desse período – minha apresentação à obra de Helena Pereira da Silva (1895-1966). No segundo semestre de 2004, Ruth foi responsável pela curadoria da exposição Mulheres pintoras – a casa e o mundo, realizada na Pinacoteca do Estado de São Paulo, na qual a produção artística de 52 mulheres, dentre elas Helena, recebeu o merecido, ainda que tardio, reconhecimento público.

Meu encontro com a pintura de Helena Pereira da Silva, naquela mostra, foi marcado por uma forte impressão diante de cores intensas e pinceladas maduras, aplicadas em composições de motivos tradicionais como paisagens, retratos e naturezas-mortas. A existência de motivos orientais em muitas dessas composições logo foi justificada pela notícia de seu matrimônio com o pintor japonês Riokai Ohashi (1895-1943), ocorrido em Paris em 1933, onde ambos se encontravam, a exemplo de muitas e muitos de seus compatriotas, e de tantos outros artistas de todas as partes do mundo, que buscavam na Cidade Luz uma formação profissional e um espaço de liberdade possível.

A partir desse cruzamento biográfico, surgiu meu interesse pela obra do artista nipônico, de escassa representação em coleções públicas brasileiras, mas provi- da de impactante personalidade pictórica. Em uma trajetória distinta de tantos outros artistas japoneses que emigraram definitivamente para o Brasil, especialmente para São Paulo, aqui se estabelecendo e marcando de forma incisiva o panorama das artes visuais brasileiras, Riokai Ohashi teve apenas uma curta passagem por nosso país. À semelhança de Tsuguharu Foujita (1886-1968) e Tadashi Kaminagai (1899-1982), que também permaneceram apenas um período de suas vidas em solo brasileiro, no intervalo de suas estadias parisienses, Ohashi foi mais um artista que buscou, segundo o ideário moderno, a ponte entre as tradições do Oriente e as inovações das vanguardas europeias, transitando entre mundos e culturas diferentes e distantes.

A fascinante história do casal Helena e Riokai Ohashi, verdadeira saga dos deslocamentos e múltiplas identidades culturais característicos do século XX, bem como a singularidade e a importância de suas produções artísticas, ganha, finalmente, e para minha especial satisfação, a merecida visibilidade, graças à iniciativa de meu caro amigo Telmo Porto, grande apoiador da cultura, que em sua atuação de mecenas, ao lado de sua esposa Laís, tem realizado inúmeras e destacadas doações para acervos de muitos museus brasileiros.

A exposição Helena e Riokai: entre o Brasil e o Japão, Paris, organizada por Telmo Porto em seu novo espaço Arte 132 – que surge no cenário paulistano com inovadora proposta cultural para além de uma galeria comercial – apresenta, pela primeira vez ao público atento, um significativo conjunto de obras dos dois artistas, formado ao longo de alguns anos por meio de cuidadosa garimpagem em leilões e aquisições de colecionadores. Um processo que revela o olhar curioso, refinado e sensível de seu responsável, posto que iniciado a partir de um álbum de recortes e fotografias, organizado por Helena, registrando a viagem do casal ao Brasil e à Argentina em 1941, ao qual veio se somar um segundo álbum, documentando o trabalho da incansável Helena como modista, na grande loja de departamento Matsuzakaya, em Osaka, entre 1936 e 1940. Uma preciosa documentação iconográfica, habitualmente pouco valorizada pelo mercado de arte, e que será doada ao Museu Histórico da Imigração Japonesa de São Paulo, após o término da mostra.

 

Imagem à esquerda: Riokai, Beijando a mão (Paris), [s.d.] (1930), aquarela sobre cartão, 14 x 9 cm

Imagem à direita: Riokai, Autorretrato (Jigazō 自画像), 1943, óleo sobre canvas board, 46 x 38 cm

Imagem à esquerda: Riokai, Helena lendo, 1935-1942, aquarela sobre cartão, 9,5 x 14 cm

Imagem à direita: Interior com cadeiras, 1942, óleo sobre canvas board, 17 x 20,8 cm

Imagem à esquerda: Dans le jardin j’ai posé (25) [escrito a mão no verso], assinado: Riokai Ohashi [s.d.] (1928-1930), óleo sobre canvas board, 44,5 x 36,5 cm.

Imagem à direita: Portrait de Riokai, assinado: Helena Ohashi, Japão, 1934, 70 x 57 cm.

Imagem à esquerda: Cerejeiras rosas, assinado: Helena P da S Ohashi Japão, [s.d.] (1934-48), óleo sobre canvas board, 50 x 60 cm.

Imagem à direita: Cerejeiras e mulher de quimono, assinado: Helena Ohashi Japão, 1947, óleo sobre canvas board 58 x 68 cm.

Imagem à esquerda: Compositio, assinado: Helena, Paris, 1930, óleo sobre canvas board 46 x 44 cm.

Imagem à direita: Rosas tristes (Kanashii Bara 悲しい薔薇), assinado: Riokai Ohashi, 1943, óleo sobre canvas board, 30 x 40 cm.

Imagem à esquerda: Vaso e flores, assinado: H. P. da Silva Paris [s.d.] (1925-1930), óleo sobre tela, 53 x 65,5 cm.

Imagem à direita: Cesto de crisântemos, assinado: P da Silva Ohashi Japon [s.d.] (1934-1942), óleo sobre tela, 80 x 100 cm.

Imagem à esquerda: Nu feminino, assinado: H. Ohashi Japan 1936, Óleo sobre canvas board 44,7 x 36,7 cm.

Imagem à direita: Bodhisattva Tara, assinado: Ryokai, 1940, carvão e lápis sobre cartão 31 x 16,5 cm.

Imagem à esquerda: Cerejeiras, assinado: Helena Ohashi Japão, [s.d.] (1934-48) Óleo sobre canvas board 35 x 45 cm.

Imagem à direita: Figura feminina no jardim, assinado: Helena Ohashi Japão, [s.d.] (1934-1942) Aquarela sobre cartão 21 x 27 cm.

Imagem à esquerda: Rosa (Abraços de Helena), assinado: Helena Ohashi 1955, aquarela sobre cartão 14,5 x 10 cm.

Imagem à direita: Ao som da Marselhesa, assinado: Helena [s.d.] (1951-1961), aquarela sobre cartão 10,5 x 14,5 cm.


BAÚ DE HELENA

Meus pensamentos e minha arte são minha fortaleza.

(HELENA, 1969, p. 61)

Apontam alguns pesquisadores o sacrifício de Helena em trabalhar como instrutora de piano, consultora e designer de moda ocidental, palestrante e importadora de bonecas e tecidos franceses, para que Riokai continuasse pintando sem preocupações. Entretanto, Helena ela mesma nunca abandona a pintura.

Reunidas em álbuns, memórias da sua vida no Japão fazem parte do acervo da exposição.

Álbum de Helena – Matsuzakaya de Osaka – Japão | 1934-1940


Caderno de Desenhos | 1948

Registros de Helena sobre as obras de Riokai que ficaram no Japão, no retorno dela ao Brasil.